quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

((Tristes os que procuram dentro de si respostas porque lá só há espera))

Tá, eu sei que me repito. Mal de quem fala demais, de quem não consegue se conter, de quem ainda não encontrou um silêncio adequado. Já me esqueci o código combinado, de como suspender o estado bélico. Difícil demais viver hoje, difícil demais brigar, eu mesma, com a minha incrível capacidade de não querer contrariar. As pessoas são tão irritantes quando não são você. E eu que não consigo mais ser a pessimista reclamona acabo ignorando tudo que irrita. Não precisa muito, as letrinhas no papel e tudo bem. Quais eram mesmo os problemas todos que eu inventei dias atrás, eu não me lembro. A cidade caiu hoje, eu só consegui achar bem bonita a cor da chuva que chegou tão perto, mas nem. E depois não tive tempo pra mais nada. E isso é bom.

De novo, sem mover um músculo, eu me repito. Elas insistem e não me deixam dormir, essas idéias.
De idéias antigas, elas, que não me deixam dormir, essas idéias. Preciso de um novo fuso e alguém disposto a ver as notícias por mim.
Exausta, só.

As pessoas querem coisas. As pessoas, as coisas. E eu duvido que queiram mesmo - é preciso duvidar de tudo. Porque triste é ter certeza. Na minha mais nova modalidade de sentir o que é verdade e não acreditar até o último instante, ah, muito complicado e eu não conseguiria explicar. A minha mais nova modalidade vanish e perfex, desinfetar o mundo de qualquer sinal da minha existência. Em outro sentido, misturo aquilo que aprendi e nem queria. Minhas coisas irremediavelmente cheirosas com a nova técnica, fragrância entre as roupas da gaveta. Pode ficar com o resto, já que eu nem queria mesmo.
Decido e este não é o momento de disputar nada com ninguém: preguiça. Ah. E no silêncio - ainda que se tenha o que dizer - vão me ver sorrindo, mas só quando eu quiser. Sorrir.

Tenho calma e esperança, isso tudo vai acabar em dois tempos, quero nem ver. Mesmo assim, é como seu eu estivesse aqui pra isso. Maior bom, só, sozinha e pronto, não enche-e.

Bem agora, meu pé no chão, eu começo a entender o mundo físico.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Descobri?!*_*


Tá bom, eu não descobri a cura de nada nem uma fórmula revolucionária. Mas eu adoro a sua cidade quando eu consigo saber onde estou. Quando eu consigo o melhor itinerário, o melhor jeito de voltar para casa sozinha. E a sensação é de pertencer. Eu sei onde estou. Minha cabeça e o meu corpo no lugar certo. Se eu tivesse como, passaria o resto dos meus dias a organizar caminhos. Hoje foi bem assim.
Sobre quando eu faço drama, sobre quando eu tenho uma cara meio de assustada, sobre quando eu quero escândalo ou elogio (confetes, confetes), sobre quando eu sonho ruim.
É tudo porque eu ainda estou meio perdida, procurando o melhor caminho, sempre.

((Ou: eu que não insisto, eu que odeio existir))
É sempre um caos porque quando preciso de um ouvinte, o que me resta é a TV.
A sensação de abandono que acomete àqueles com um punhado de neurônios & (hum mil) coração. Coisa mais normal do mundo, então dane-se.
Já me disseram que eu sou incapaz de amar as pessoas e que amo mesmo o amor. Ainda hoje me elogiaram as covinhas, o sorriso não sei das quantas. Em outros tempos já me disseram que eu saboto tudo e que uso os amigos alheios, invado espaços sem ser convidada. A incrível capacidade de não decorar nada, memória de peixe, gosto duvidoso. Acho que sofro da síndrome da falta de espectadores e/ou ouvintes, pode ser também. Eu tenho tantas qualidades, puxa vida. O fato é que eu não sei o que fazer com tudo isso. Sendo ridícula, talvez.
E esse tom confessional, de onde é que tirei isso? Ninguém vai morrer agora, que exagero. E porque será que eu me convenci do poder de prever? Eu acho que é muito mais uma capacidade de aprendizado (campanhia, recompensa, campanhia, choque) do que algo místico e além do alcance.

O desafio é me livrar daquilo que sustenta as horas do meu dia, aí não haverá diferença, aí não haverá a angústia de depois das onze horas, a sensação de fim do mundo e a constatação fatal: ninguém espera por você. Um milhão de reais para quem conseguir esperar. Mas. Uma hora a gente se engana e eu vivo querendo estar errada, juro. E falta um monte para as três. Antes de tudo, a Vontade. Tem quem se faça de difícil, eu me faço de fácil.
Odeio a sua cidade quando eu não existo nela. Odeio mais quando todo mundo já resolveu o que fazer da vida e eu simplesmente cheguei atrasada e não consigo me incluir em absolutamente nada. A arte de desaparecer bem quando ah, esquece que eu já esqueci. Ainda serei eu, como você falou na mais profunda lucidez, uma história (mais uma, mais uma) a se contar.

Eu acordo desejando ser outra pessoa. Assim só para não desperdiçar o que eu já sou. De tão ruim, realista ruim. Apenas por haver tantos e mais alguns como eu, gostaria apenas de mudar até o mais alto grau da não-existência. Enquanto você dorme, cuido da reconstituição dos fatos. Não quero ter expectadores para o nascimento da minha própria decadência, infinita. Até a morte. Eu não sei mesmo o que estou fazendo aqui e nada de bonito me ocorre no momento. Nada a dizer. Então, eu e as intrincadas relações mentais feitas com a ajuda do mesmo sangue que provoca os choques necessários ao coração, começamos a sabotar tudo. Minhas pernas ainda não pararam de tremer. Eu sinto muito. Sempre.

Tanto corri, e o que me resta são os mais odiosos filmes na TV, uma comida ruim e a mais plena sensação de não existir. Apesar de todos os indícios, apesar de tudo o que eu deixo em volta. Para completar, sou incapaz de realizar os inputs necessários e eficientes para que tudo volte a funcionar. Mas nem vou chamar os técnicos, vejo tudo em chuvisco, pronto. Como pertencer sem existir?
Sem hipocrisia, é um pouco de mim que se vai. O que eu tenho não é grave, não é permanente, nem é incurável. Não é nada. O que eu tenho, além de ser bastante aborrecido, é indizível. O que eu devia ter é um plano B. Em Casa haveria alternativa, não aqui. Amanhã vai fazer sol, juro que vou andar pela parte amarela do dia.

Eu choro embora não pertença
De todo a essa queixosa confraria
Pois em mim a alegria penetrou
Até a mais recôndida medula do coração.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

?

Volto aqui aparentemente sem motivo. Volto porque quero, porque sei viver. Porque não resisto à vida. Coragem, sempre. Sinto falta, a minha memória auditiva e suas contradições, quero sim o silêncio de volta. E me ocupo em viver essa minha vida sem qualidade, mas de muito bom gosto. Sem pitangas a se chorar, é assim que me ensinaram. Enfrento o próximo passo e não me envergonho de desaparecer das fuças, vistas, isso aí, as pessoas. Até tentei, mesmo que as previsões, que só funcionam para iguais, tão acertivas previsões, me digam para desviar disso aí. Acredite, uma luz insiste. Não duvide, mentira. Não é mal desejar uma outra vida. Exceto que não há garantias. Me deixo em paz, me faço dormir 15 anos se quiser. Não sei.
Talvez. Talvez eu não seja esta a quem as palavras são dirigidas. Ou não seja eu a preencher expectativas. Demasiadas expectativas de não ver, não ler e não ouvir. É possível que cretinice seja apenas uma palavra feia, e que, nos dias de hoje, todos sejam realmente felizes. Pode ser que eu não dure assim, uma semana. Cansaço. Por pouco as desgraças mundiais podem muito bem ter sido merecidas. Não sei. E pode ser que algum dia eu tenha a chance de praticar horários comerciais, que tire férias dentro de dois meses. Ainda vou descobrir, quem sabe, o que há de tão ruim em duas horas de solidão. Me parece que ninguém deveria dizer algo quando nada foi perguntado. Não responda, portanto. A arte de ser desnecessária.

Certeza que eu (também) tinha que aprender a rir de tudo isso. Das horas a mais, das horas extras, das horas de morte. Preciso me mudar, duvido.
E depois de tudo, o silêncio. Mas daquele que eu gosto, com indícios, ecos e, hum, cenas. As pessoas que vivem por viver, e nem pensam na hora de apertar o botãozinho da ação e sair por aí fazendo merda. A elas, nada posso dizer. Se elas pudessem ouvir, talvez eu só dissesse para viverem realmente. Menos brutalidade, menos vaidade. Só um pouco menos.E eu, que (vivo) querendo congelar as mais belas cenas.
Já sei que não posso. Agora aprendi a ver o tempo passar e passar, só. Nem lembrança, nem esquecimento. As coisas belas. Sorte de quem entende os covers do Renato Russo. Borboletas, certezas que armazeno no estômago mais que perfeito que arranjei para mim agora. O estencil na parede já ganhou a minha simpatia, e nem vai perder. Talvez ele seja a minha memória. É só disso que o mundo precisa, a simpatia geral, como se não houvesse amanhã. E ainda me disseram outro dia que eu gosto de quem acredita. Eu acho é que na verdade quem acredita sou eu -também? E talvez eu devesse parar de escrever. Bobagem.



sábado, 2 de janeiro de 2010

Casa,*


Adquiri a incrível capacidade de não fazer nada por um par de horas ao acordar. Assim consigo me atrasar um pouco mais e deixar de fazer tudo que eu teria que fazer.
Mas se me perguntassem, deixaria quieto. A arte do não-fazer. Invejo as pessoas que podem dizer 'bom dia' umas para as outras. Invejo os almoços saudáveis, nada disso é para mim. Depois de vários meses relendo livros que se mostram inteiramente novos parei de me preocupar com isso.
Eu que sempre passo da conta, eu que sempre quero mais e mais de tudo. Melhorei. Tenho matado aos poucos as coisas bonitas antes que elas não sejam mais minhas. A idéia é vencer a corrida contra o tempo.

Eu devia aceitar a proposta de voltar para Casa com todas as facilidades que me ofereceram. Não sei. Talvez seja hoje o dia que ficará marcado como aquele em que nunca mais voltei. O vício agora é outro: partir. Sempre.

(Queimei meu joelho todinho,* nem vo pra o projeto :/ )

off agora Pq to sem saco*


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010



A minha vontade oscila entre o que eu quero e ainda posso ter e aquilo que eu quero mais e nunca vou alcançar.
Dizer a verdade é privilégio de quem nunca precisou mentir.
Você repete uma frase. Repete uma palavra. Quinze vezes, vinte, cinqüenta. No fim, ela não vai mais significar nada. O tempo, a repetição do tempo. Vou esperar pela repetição de um dicionário completo de termos que quero esquecer. Quero rir de tudo aquilo que perder o sentido. Colecionar. De um conjunto de idéias e sensações esdrúxulas e incômodas. Tenho que aprender a me distrair.Quando o dia acabar e não sobrar mais paisagens, pessoas e morbidez, a vida vai ser melhor. Com as pessoas, quase não se pensa. É só falar, olhar e sorrir. Reagir. Fazer cara de nada e não ser incomodado.

Mas aí fica faltando alguém para se falar o que de melhor se pensa e para sorrir o melhor sorriso. Não é possível ser brilhante todo o tempo, apesar de necessário. Não é a paisagem, não são os prédios e nem as crianças gritando. É o que dá para pensar quando se finge a solidão. Depois de várias placas verdes, descobriu o que não queria ser.
E o que queria ser demais.
Ainda vou ser isso e ser aquilo. ainda vou ter um filho. Ainda serei míope. Ainda serei linda, ainda serei boba, feia e chata. Ainda vou me afogar. Ainda vou pular, andar até cair, bater o carro. Ainda vou ficar doente em uma cama de hospital. Ainda vou ser milionária e perder tudo. Ainda vou passar um dia todo na piscina. Vou aprender a pular de ponta e a falar francês. Ainda vou perder um filho. Ainda vou sustentar um sorriso por meia-hora. Vou ter o carro roubado e recuperado pela polícia no fim do dia. Ainda vou desmaiar e ter todo o tempo do mundo.
Ainda vou ter tudo e mesmo assim chorar. Ainda vou assistir a um velório. Ainda vou ajudar alguém que realmente precise. Vou acertar achando que errei.
Ainda vou dormir e sonhar que morri. Ainda vou parar com isso e aquilo.
Ainda vou parar já que o mundo inteiro é muito brega.

Eu descobri a fórmula de escolher a melhor forma de fazer algo. Fazer sempre da pior maneira possível.
Quero me mudar de casa, de cidade. Tudo para esquecer, tudo pra chorar só mais uma vez e pronto. E depois parar com isso, que já cansou.
Vamos ser sutis enquanto nossa educação e anatomia permitem. Tratemo-nos como idiotas que somos, sem, é claro, ferir o sentimento de ninguém. O sentimento de pertencer e de ser objeto de análise, admiração, respeito. Nada disso. Somos objetos normais. Conversamos sem nunca alcançar qualquer entendimento que valha a pena.
É reconfortante que tenhamos palavras e letrinhas.


Escovar os dentes antes ou depois de trocar de roupa. A segunda opção para hoje. A rotina ficaria mais divertida se eu pudesse ficar em casa e não provar que eu ou quem quer que seja exista. Exista para minha cabeça.
Quando estou morrendo de sono não consigo ficar feliz e articular palavras ou pensar no sentido da existência humana.
Não estamos falando no porquê de as coisas existirem, mas o que elas fazem aqui comigo. Estar com sono de verdade, desde que se nasce é ver a vida passar sem se intrometer muito. Deixar o acaso. A vida não é, a vida fica.
Meu nível de incômodo com as coisas é o mais baixo possível e isso acaba preocupando os outros. Nada vai devolver a inquietação. Parece.
E nada vai mudar fora de mim. E tudo que eu faço não é bom, exceto quando está fora de mim.

Alteração de humor imediata por causa de luzes que ferem os olhos e o resto do corpo. Submissão, rejeição, a subalterna. Eu nem me lembro bem o que eu tanto queria te falar, quando disse que você devia morrer. E ainda leio muito em casa, na busca incessante por uma anestesia qualquer.
Doeu muito, mas não arrancou pedaço. Prometo não sentir mais nada nos próximos dez anos. Melhor, eu juro. Tudo isso, na verdade, é um grande jogo de concentração, misturado com uma enorme dose de condicionamento. As pessoas se acostumam a reagir de determinada forma e simplesmente fazem de tudo para se sentirem correspondidas em cada merda de movimento condicionado. Cansei desse treinamento idiota.
E eu preciso dizer que todas as pessoas do mundo podem abusar umas das outras, inclusive eu. Sou capaz também. Ruim.
A racionalização sempre salva nas piores oportunidades. Não há mais chance de ser ridículo depois de se pensar melhor. Antes de tomar qualquer atitude drástica, antes de cair no absurdo de se tornar um palhaço. Nem ridículo nem feliz.

Oferecer gim não vai melhorar em nada as besteiras que já foram feitas. As besteiras esquecidas e as eternas. E coloca logo um sapato que isso de andar descalço é muito perigoso. Tudo bem se os meus olhos brilham. Tudo bem se desde sempre você achou isso bonito, tudo bem se parece que estou sempre a ponto de chorar. Tá bom que dá para sentir o meu perfume de longe e que parece mesmo que não é perfume, que é meu mesmo. Que é bom. Não importa mais, esquece isso que eu já esqueci.

Você flutua pensando que o mundo é só seu, que o olhar dos outros é seu, que a esperança de beleza no mundo todo é sua. E isso cai de uma vez e você sente os seus pés no chão quando para e pensa de novo. Uma vez mais para descobrir que o egocentrismo tem limite, mesmo para você, que não merece.

É universal. A quantidade de coisas dando imediatamente errado é sempre maior do que as coisas que dão certo no que chamam de longo prazo. Aí a cadeira fica mais dura, o trânsito mais cheio, a gola da camisa mais apertada e o trabalho mais chato. Tudo se torna infinitamente menos interessante, mais cinza do que branco, mais rosa que vermelho.

Existem dois tipos de pessoas. As que juram que a vida é bonita e os que já sentiram pelo menos uma vez o pé no chão. Se a coluna doeu, se o ódio regular aumentou, pronto.

E as situações absurdas são apaixonantes justamente por não se encaixarem nos dois casos. Por não fazerem sentir nem uma coisa nem outra. A autoconsciência explícita em todos os momentos incomoda demais. Quando não podemos definir o que se é, nas mais deliciosas situações absurdas, a vida é cem vezes mais interessante. Me conta uma história e me faz dormir? Qualquer coisa. Pode mentir. É só até eu pegar no sono. E apaga a luz.

Produzir os seus gestos e tentar entender os desejos de forma artificial. As mais diferentes idéias que se tem de si e do resto da humanidade dependem apenas da vontade de esconder o seu próprio estado de existência. O pensamento deve ser produto contínuo de sua própria existência. O modo como se produz a própria vida é o que cada um é de verdade. Não saber de tudo é reconfortante então.

Você quer que eu seja o tipo de mulher que quase não existe por aí. Não acha que está exigindo demais? E para quê? Para te satisfazer? Aí está uma novidade. Jamais serei como as mulheres de seus filmes preferidos. Simplesmente porque não quero.

Hoje eu queria saber menos do que eu sei. Queria ter ouvido menos do que ouvi, ter visto menos do que eu já vi. Ser mais distraída. Uma mania de querer entrar em detalhes desnecessários. Queria ter batido menos a cabeça por esses dias.
onversado menos, saído menos de casa. Não tem nada melhor do que a rotina pesando nos ombros, do que o silêncio velado, lindo. A passividade é toda minha, disponha. E é boa mesmo. Uma conquista que já não está mais aqui. Queria sentir menos que você chegou a escutar tudo o que eu disse. O que eu tinha para dizer, sem negar as minhas percepções, por favor. Por mais absurdas que fossem as distorções. É impossível me sentir melhor, sentindo tantas coisas. É por isso que eu queria muito saber menos do que eu sei. E se eu arrumar essa bagunça, é bem capaz que volte a ouvir sua respiração na minha perna, de dormir. Eu quero mais é que o silêncio volte. Podemos ficar sentados, vendo filmes de terror à noite, como antes. E você volta a ter paciência. E eu volto a não precisar dos outros, a odiar todas as pessoas que eu não conheço. E você volta a rir disso.

Eu prefiro a minha vida ruim, os meus livros ruins e a minha cama velha do que tudo o que tem de mais original, divertido e sexy. A minha vida comum, os meus não-amigos-de-sempre, aquela coisa da qual todo mundo foge. Prefiro a minha casa, o meu cachorro que eu ainda não vi hoje, meus papéis velhos, os bilhetes de cinema, a cola antiga, os sapatos velhos.
Não quero ser a mais legal, a única e original, a que tem o rosto mais bonito.
Eu não quero ter bons pensamentos e ver a lua sorrindo pra mim. Gramas verdinhas, pássaros cantando, o maldito pôr-do-sol. Não quero o perfume.
Eu quero todo dia o meu cobertor, minhas músicas ruins e a vista do parque sujo. Gosto da minha vida de tédios.
Não tem essa de passar o dia descrevendo a mente humana, as cores bonitas e a textura correta. Eu gosto da lâmpada de mercúrio no poste, a cidade vazia e o clima frio e seco. Eu não quero aprender a acertar, não quero latim, não quero russo. E eu juro que não quero ser eficiente. Eu só quero pensar.


Não dá mais para ficar sendo assim. Simplesmente não dá. Uma coisa é nascer pensando que pode ficar parada, indo sempre devagar e acompanhar o resto dos imbecis. Outra bem diferente é ser freada cada vez que ri mais alto.
Ou: uma coisa é respirar baixo, e outra bem diferente é ficar o tempo todo com o nariz tapado, fingindo de morta, a cara azul.
Melhor: uma coisa é pensar que faz uma coisa útil e outra bem diferente é fazer tudo escondido para ninguém ver o erro.
Não sei. Um de cada vez então. Você quem sabe. De que adianta ficar aqui pensando um monte se não é nada, se qualquer novela resolve. Ponto.
Do jeito educado então: É melhor não falar nada quando não há o que dizer.

Eu queria poder ouvir as vozes da televisão e as músicas no rádio ao mesmo tempo. Quem sabe se colocar os óculos de novo. Não pode, não pode, não é normal. Sonhar que mergulha em uma piscina imunda, isso sim não é normal. Deve ser motivo de preocupação, um sinal de qualquer coisa ou excesso de angústia estéril. Agora que tenho tudo o que quero, prefiro quando não tinha nada, ou qualquer coisa do tipo. Mas pode ser também a tal da umidade relativa do ar. Vontade de ver o mar, necessidade de tomar banho. Mas o melhor detalhe é que não havia nojo algum, só não entrei na água escura porque estava com frio.
O telefone tocou uma vez, uma única vez, sem registrar o número que chamava. O que a solidão não faz, eu crio. O que a falta não faz, é só comer bastante. E quem quer saber o que eu sonhei? E quem vai ter paciência de ir até o final com essa obsessão por sonhos ruins. A fotografia pelo menos é boa. Desta vez era granulado, azul turquesa, arredondado. Uma lente especial para cenas de verão. Pessoas gordas sorrindo. Deixar quieto ou o quê? E se for um novo vício?
Eu quero ter alguns novos gostos e alguém pode achar isso mega ultra brega. Eu nasci assim e que se dane. Dentes brancos, tudo bem. Apenas quando soa bem para os teus pavilhões auditivos. Isso não é justo. O atirador vesgo pinta o alvo depois que atira, nas marcações que sobraram na parede. Eu sou assim, oras. Quero ver quem não é. Eu odeio chá, por exemplo.
Fazer terapia e parar de sentir dores inexistentes. Tentar fazer as conexões causais aceitáveis. Não mais ligar todos os fatos que me cercam como um ratinho de laboratório ensinado a base de choque. Ainda tenho um espaço por aqui, certo? Vou continuar até que acabe. O suficiente para mais meia hora. Simplesmente adoro a chuva artificial dos filmes mais mal feitos. Com vento e luzes de postes acesas. Isso deve ser no mínimo imbecilidade. Mas é assim que as coisas são: imbecis. Todas as coisas do mundo são imbecis. Inclusive esconder as verdades aqui comigo. Por que perder tempo quando se pode resumir e morrer?





As paredes vão ficar cada vez mais amarelas. Então é melhor pintar creme, e não gelo. O ato de resumir. Ouvir uma bela música e lembrar de ter saudade, e sentir falta do que não se tem em dobro, daquilo que não se tem por inteiro. Até hoje, até agora, desde sempre.

O primeiro do Ano,*

A escolha pela vida e por tentar ser feliz, ou se considerar feliz, é escolher, entre outras opções, por pensar a vida como um presente divino ou então não pensá-la de forma alguma; apenas viver e continuar querendo a vida.(ai embaixo vem minha contradição)
Hoje é o dia de estar naquele mesmo lugar de antes, mas com novas pessoas.
Não farei parte do público pela terceira vez.
E o que sinto é apenas um leve pesar.
A solidão não é estar sozinho. Absolutamente. Tem a ver com não corresponder, não ter com quem e o que corresponder. Depender de uma afirmativa de três letrinhas não pode ser viver. Deve ser qualquer coisa que lembre sumir. Não há entorpecente, não há mentira que faça sentir qualquer coisa. Nem dor, nem contentamento. Apenas um grande nada. À procura. Da Morte Feliz. Para sempre. Não ter uma super banheira e não conseguir pensar em morrer, sem afetação alguma. E não é por nada, não é por não ter o que se quer, é por não ver o menor sentido em atos, palavras e negativas próprias. É por não querer.
Querer ter a mesma força de pensamento dos imbecis e não ter memória curta. Pior é ver os acontecimentos e começar a adivinhar o que vem depois sem o menor esforço. Sentir nunca foi saber.
 Minha vida...
a internet e a TV
a vida que passa e a que não passa
o pensamento do absurdo e os demais livros de coleção
os animais, crianças, adultos e velhos
os carros de todas as marcas, modelos e cores
o concreto da calçada, os bancos, as quadras do Distrito Federal
a comida natural, os alimentos cancerígenos e radicais livres
as dores de cabeça, as cabeças saudáveis, olhos e bocas
a arte embutida, a expressividade, a vida, as casas de cultura de toda a América Latina
os telefones, as mídias, os meios de comunicação
a ordem, a lógica, os pedidos
as casas, os apartamentos, os prédios e as salas comerciais
as cores vermelhas, aveludadas, os cheiros, as tintas e nuances
os cabelos compridos, os ralos, barba e bigode
as viagens, as cidades, os eventos
o dormir e o acordar
os meses de junho e julho, os meses de setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril e maio.
Eu não quero ver isso passar, eu quero que passe.
Não quero ser melhor, quero ficar melhor.
Visito cemitérios sem flores e o fantasma sou eu. Não canso de gastar a gasolina do meu carro ( nem tenho carteira, nem sei dirijir...) para visitar lugares mortos. Azar de quem tem memória, azar de quem vai viver mil anos.
Não, realmente não se trata de uma conspiração do mundo contra mim. É exatamente o fato de não haver uma conspiração o ingrediente de pura maldade que faltava.

Covardia é achar que abaixou a cabeça para quem quer que seja e não assumir que esteve por aqui enquanto era agradável – e útil – estar. Covardia é não saber o quanto de mal se pode fazer a alguém, não ter idéia e não querer mesmo saber. Covardia é impor, mostrar uma felicidade íntima a alguém que simplesmente já morreu, a alguém que não agüenta mais a não-conspiração – contra – do mundo.

Eu já passei dessa fase há pelo menos dez anos. De saber a verdade. Quando o erro maior é acreditar no que alguém que detém a verdade te fala e no fim, ironicamente, no resultado mais clichê de todos, descobrir que era tudo mentira, da mais barata de todas, que te faz achar que a conspiração do mundo existe e está a favor de quem acreditou.

Antes que eu me esqueça; existe uma coisa chamada "força de expressão". Dizer que queremos que alguém morra, não significa que essa pessoa vá morrer. Também não quer dizer que realmente queremos. Eis uma verdade inquestionável que está, inclusive, em qualquer dicionário.

Todos, absoutamente todos, podem começar tudo de novo.
Repetir os melhores erros da vida.
Até agora só o não-agir é inofensivo.
Qualquer que seja a atitude, é preciso dois.
Temos apenas um. Vazio.

Ontem foi o que bastou.
Hoje, mais nada. Amanhã, pior. Dane-se
Isso tudo azedou, apodreceu e vai virar adubo. Eu não quero mais agora.
Que merda de dor.
O prazer da verdade, também ninguém mais vai ter. Não vou mais dizer o que realmente sinto, o que realmente penso. A verdade está comigo e deve continuar assim.
Porque eu não consigo mais achar bonito ser maltratada por QUEM NÃO ME CONHECE.
O que eu quero agora é me esforçar para acreditar que me enganei profundamente com tudo o que aconteceu a enlouquecer tentando me convencer que sim, aquilo foi real, mas acabou assim.
Era tudo mentira, a mais pura mentira. O mundo está cheio de grandes mentirosos e pronto. Não acreditar facilmente. Mentir mais que os outros. Temos opções não-livres.
Com tapas na cara, água fria para acordar.
Já não tenho mais febre e, posso dizer, não sofrerei uma crise de asma. Como castigo, serei a pessoa mais saudável e feliz. Um princípio básico, a autodestruição sem fim, vias tortuosas, a contradição.
Por certo, o ponto de vista primordial de que todas as pessoas são iguais - exceto uma - foi provado. Podia ser eu, o vizinho, o mendigo, o menino rico, a colega, a gorda, a louca. E esta vitória levarei comigo, agora que nada me resta.
Sem perceber, deixou que a dor tomasse o seu corpo de uma vez. Foi sem aviso, sem defesas, que todo aquele tremor nas mãos, a dilacerante dor no estômago e a vontade de gritar, voltaram. Pega de surpresa, de pijamas e descalça, ficou imóvel por mais de uma hora.E quem disse que a dor faz alguém crescer?
Se cada vez mais é com a dor que eu quero mais e mais o que eu não posso ter. Nada de ser melhor. Sempre pior.

Mas nem a certeza de que isso tudo vai passar me faz ficar bem, porque, em todo caso, se passou é sinal de que eu queria não pôde ser. A cada sensação boa qualquer, duzentos mil pesamentos ruins me lembram que isso tudo vai ser SUPERADO. Como eu odeio a idéia ter superado algo, superado o fato de não ter vivido o que eu queria viver.
Mas agora eu já sei que tudo é inútil, inclusive encher o coração de esperança, espiritualizar o que quer que seja.
Nem precisa dizer as horas.
A ânsia ainda não passou,
A vida ainda não melhorou.
Quem quero enganar se não me sinto nada bem?
Mosquito
Mala
moinho
matéria
modernismo
molécula
O outro que delimita as possibilidades de um. E tudo fica mais confortável se não se está perdido no vazio, mas amparado em um canto certo.
Eu odeio as mil possibilidades. Eu odeio a dor no meu estômago. Eu odeio o vazio em que me meti.

Eu não conheço todas as pessoas do mundo, mas sei de uma que não é como todas as outras, não é ninguém (alguém, alguém, alguém) e devia estar no mundo assim que eu abrisse os olhos novamente.

Eu também não tenho nada a dizer e espero continuar assim até que as negações sejam vazias. Para mim.

Talvez desconhecidos tenham a capacidade de intervir. Passarei de casa em casa com folhetos explicativos.

De precisar descontar algo em alguém.

De não ter mais nada e não querer pensar.

De achar que esperar é melhor do que sumir.

De voltar no tempo como em qualquer filme barato e ir contando os boçais erros do dia-a-dia. O pior: querer voltar para consertá-los. Praticamente um pokémon.

De querer jogar fora uma máquina inteira; com teclado, monitor, CPU simplesmente porque ela tem uma cara de quem não quer fazer amigos.

Não faça ninguém nunca na vida pensar que tudo é bom e vale a pena, se você mesmo não tiver certeza disso. A minha mediocridade é maior ainda quando todos estão longe. Se um dia eu quiser que tudo acabe bem, alugarei um filme.E não tem diferença de gosto. Tudo é um lixo.

Não é verdade que eu não preciso de ninguém, se um dia eu fiz parecer. Eu preciso de volta da única novidade que tinha aqui no meio de tanta coisa ruim. Tenho inveja de todas as pessoas desconhecidas, o passado delas está zerado, e, no futuro delas, pode estar incluída qualquer coisa que as ligue à minha novidade.

Mais ou menos assim ininteligíveis que as coisas são mesmo. É idiota passar frio com o cobertor ali do lado. Vai passar. Agora. Pronto.

Por fim... Ficarei off... Férias,*

"De tanto fazê-la sentir que existia para ele, acabara fazendo com que realmente existisse"