quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Último do ano.*

Posso falar a verdade sobre mim e é aquela que diz: é muito fácil agradar quando se disponibiliza os acessórios necessários.
Se tiver faltando um, acabou para sempre.
Universal.
Ninguém aguentará me ver chorar.Queria poder falar de tudo no passado, mas o que tenho é um eterno hoje. Hoje do dia que alguém na Etiópia morre de fome.
É assim. Todos sabem que alguém morre de fome na Etiópia neste minuto, mas ninguém fica o tempo todo pensando nisso. De tanto saber, se esquece, apesar de estar armazenado. Mas eu me lembro sempre. Eu sou o etíope. Hoje é um dia terrível, assim como foi hoje e hoje e hoje. Eu sou hoje. Estou novamente hoje. Serei hoje, como fui. Hoje.
Dane-se viver tudo como se fosse morrer amanhã.
Prefiro vacilar e dormir mais um pouco.
Vou morrer amanhã, qualquer um pode morrer amanhã. E, rigorosamente, sentirei um arrependimento saudável, afinal de contas, não passei por cima de ninguém.
Não agir demais, não agir quase nada e ter tudo na mais perfeita ordem. Não-agir mais.
As teclas gritam aqui.Acordei depois de um dia ruim e vivo acordando no mesmo dia. Não precisa se esforçar para ver que isso não é bom. E ninguém mais agüenta o meu dia triste de hoje. Ninguém me salva do maldito hoje. Sou a pessoa mais repetitiva do mundo em um presente infindável. Se ainda assim consigo ser doce, é porque faço um esforço enorme, mas sem esperança de recuperar um day after mais razoável que este. Depois de quatro folhas de papel pautado preenchidas a lápis, volto às letrinhas eletrônicas para ver um alívio. Inovações próprias.Um dia, fui respirar fundo. Alguém veio tapar a minha boca e o meu nariz e me prender no dia de hoje. Pensei: ah, a felicidade corteja a luz, então acreditamos que o mundo é alegre; o sofrimento esconde-se a distância, então supomos que não haja sofrimento.
– Não, não consigo acreditar. Tenho certeza de que já lhe ocorreu desejar uma outra vida.
Respondi-lhe que, naturalmente, mas que isso era tão importante quanto desejar ser rico, nadar mais depressa ou ter uma boca mais bem-feita. Era da mesma ordem. Mas ele me deteve e quis saber como eu imaginava essa outra vida. Então, gritei– Uma vida na qual pudesse me lembrar desta vida.
Com toda certeza o problema do mundo se constitui na obrigatoriedade de se aceitar o outro como ele é, e isso é o que faz as pessoas se agredirem por aí. Pacifismo transverso, à base de muito chute no estômago e tapa na cara. Ironicamente, a condição é essa. Não sei fazer piadas e vou permanecer por um bom tempo.
Acontece. Qualquer coisa, eu pego um táxi.(como se aqui tivesse táxi)
Tenho perdido muito das palavras bestas que sempre me acompanharam por me deter cada vez mais no significado delas e no efeito real que possa ter causado. Deixo de lado o urgente e passo a me dedicar à beleza do óbvio, não o óbvio ele mesmo. Evitei ao máximo, mas tive que sair, viajar. O antidepressivo faz dormir e aceitar a distância.
Os fluxos de gente. Se as pessoas certamente estavam desesperadas para encontrar outras. estavam sozinhas Concluía: Se for impossível ter aquele Queria mais que tudo ter sua dor olhar sobre as coisas então não quer mais abrir os olhos. na gaveta do armário estão todos em coma profundo. Os fluxos de gente pensamentos E o pensamento sobre aquele não era próprio, entrava no quarto. Explicar, continuariam mentindo mais, continuariam com opiniões variadas, palavras diferentes. e irritava Não era só pessimismo, não era só futilidade. Muito menos histeria.. Os fluxos de gente Então só pode ser egoísmo tudo, a mínima coisa, só causa aflição. Como todos. Quinze, vinte minutos em um mesmo assunto. só que diferente Sem solução. Se fosse possível pensar dentro da cabeça, sentir como se sente, o que se sente.é difícil dizer o que se pensa  Há tanto melhor e mais relevante
no mundo. E se eu me cansar do cor-de-rosa? Há tantos vazios a preencher quanto mais se pensa
no que dizer sobre o que se pensa. Pretendo fazer uso das idéias alheias para todo o sempre

Dói menos assim, sem pensar por si só, sem pensar em mim.
E quem gosta de miséria vai se apaixonar por aquilo que acaba  sem nunca chegar ao fim.
A mim me parece que a felicidade tem a cor verde, azul e rosa.
Assim como a solidão sempre foi transparente.
Qualquer tentativa de verbalizar é medíocre.
Arranca sorrisos boboalegres.
A felicidade?... esquece.Minha cabeça agora pensa rápido. Num segundo tenho o passado, o presente e o futuro. Se ouvir o que tenho a dizer, nem precisa viver. Pareço uma novela reprisada. Preciso parar de ver. Mas o filme continua e, antes de amanhecer, sei a que horas vou dormir no dia seguinte. Ninguém vai surpreender qualquer outro que seja. Eu já sei de tudo, e é tão fácil saber.
 É difícil explicar. Gosto mesmo é das coisinhas. Livrinhos, musiquinhas, nada de obra-prima. Pequenas criaturas, seres ínfimos ao invés da grande pessoa. Detalhes fazem perder a cabeça por dez segundos. Apenas. Como dividir coca-cola no pátio. Como perceber um sorriso escondido.
Resolução única para o ano que chega: nada de lutar contra, nada de causar problemas a ninguém. O ser da não-existência infinita. Para sempre feliz-triste-eu.
 O choro é sempre egoísta, não há amor eterno que seja correspondido, já disseram isso em letrinhas e eu entenderei como quiser. Digo ainda que as coisa bonitas não devem ser ditas e as coisas felizes não devem ser escritas; tudo isso deve ser muito, mas muito bem vivido.
 Com a falência iminente (vai acontecer) das famílias, das certezas, no meio do caos eu ainda consigo ter um sorriso de canto quase ignorante. Emburreço, empalideço, não sei mais usar as palavras, nada de idiomas. A memória falha e, invariavelmente, recebo correções. Mas, sozinha, a razão me acompanha, e algo me diz que devo economizar nisso tudo, guardar para o futuro. E eu não quero, não consigo. Será assim agora. Menos articulação, mais coisas a se sentir sem pensar direito no que se sente. O mundo é Vontade. Se tudo de aborrecido que já me aconteceu me fez chegar até aqui, ah que bom.
A dispersão ocorre com muito mais intensidade para as ondas luminosas de freqüências altas, como o azul e o violeta. Desta forma, quase toda a luz de cor azul é espalhada ao redor do céu em todas as direções. As ondas luminosas de baixas freqüências, como o vermelho e o laranja, quase não sofrem dispersão ao atravessar a atmosfera, portanto atingem em maior quantidade a superfície da Terra. Ando uns poucos quilômetros para ver o céu azul. E isso só me faz pensar em mim mesma. Eu nunca me engano.
Ah, todos nós somos uma mistura do melhor que podemos ser, daquilo de pior - com tendências variáveis. O problema é sair do melhor para o pior em segundos. Se uma vez quero morar no vão do Masp para sempre, logo em seguida prefiro não existir para sempre e a mesma cidade é tão inóspita. Eu posso estar na China que vai ser assim. E a vida continua, e as coisas estão bem longe, e depois tudo de novo. Volto para os 19% de umidade relativa, até podia ser menos já que agora... não há nada a fazer.

idiota adj. e s2g.1.Que ou quem é pouco inteligente; tolo, estúpido, imbecil. 2. Que ou quem é pretencioso. idiotice sf.

Da etimologia: distrair-se, estar alheio, alhear-se.



"Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro
Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro
Eu não consigo"
Nos dias certos, nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o universo está (não é perto ou longe de mim,
Mas) tão sublimemente não-meu.
 Depois da dor, o vazio. E eu não sei mais sofrer.

Ninguém se mexe. Porque eu quero que o tempo fique. Porque ainda tento fazer tudo parar e permanecer em um instante. Porque se tivesse que acontecer tudo de novo e eu pudesse escolher onde parar, seria... ali. Já foi. Ninguém mais se lembra, só a minha própria memória dos infernos.
 Sem idéias, apenas lembranças distorcidas, vultos de lágrimas que não deixam ver. Não aprendeu matemática. Sabe até contabilizar bem os eventos, apesar de não decidir se soma, divide, multiplica ou subtrai.

Quando o simples ato de fechar as cortinas antes de dormir se transforma na imagem do mais puro desespero. Da dor infantil, psicológica sempre, vazio sem fim. A droga do cotidiano, o prosaico persegue, manda seguir em frente.


Um ano acabando, sofreguidão e ansiedade por um novo período sem tanta melancolia. Nem que seja na marra.

Ia escrever, mas uma presença me perturba.
A não presença, eu tenho a qualidade de não existir.
Apesar de ter um corpo.

"Porque nostalgia pode ser apenas saudade de si mesmo.
De não poder voltar para ser o que era."

Obrigada.