Na maioria das vezes, nós nos sentimos totalmente incapazes de dizer ou fazer qualquer coisa
para aliviar a dor dos que sofrem. E
este sentimento de incapacidade é extremamente frustrante e entristecedor.
Por que
existe o sofrimento?
Será que a dor é um erro grosseiro de Deus? Ou Deus
estará querendo nos ensinar alguma coisa
através dela?
Sinto-me completamente incapaz,
perto de pessoas
que sofrem. Na verdade, sinto-me até culpada. As pessoas
estão ali sozinhas, talvez gemendo,
faces contorcidas, e
não consigo transpor o abismo
e penetrar no
seu sofrimento.
Consigo apenas observar. Qualquer coisa que eu tente dizer, parece-me medíocre
e formal, como
se recitasse algo previamente decorado.
Tenho procurado uma mensagem que nós, os cristãos,
possamos dar àqueles
que sofrem. Acima de tudo, tenho buscado
uma mensagem que possa fortalecer minha própria fé quando sofro. Onde
está Deus, quando chega a dor?
Está ele tentando dizer-nos algo?
Entretanto, como uma
cristã tentando esquadrinhar o que Deus deseja neste mundo,
tenho aprendido muito. A minha
revolta e amargura
contra Deus foram
desaparecendo à medida que
compreendia por que
ele permite um mundo com tal sofrimento.
Penetrarei no mundo dos
que sofrem para descobrir, no momento da dor, o
valor real de ser cristão.
Jamais li um poema exaltando as
virtudes da dor,
nem vi jamais uma estátua erigida
em sua honra ou ouvi um hino a
ela dedicado. A
dor é sempre
qualificada como
“desagradável”.
Realmente, os cristãos não sabem
como interpretar a dor.
Muitos deles, se postos contra a parede numa hora
difícil, admitiriam provavelmente que a dor é um erro
de Deus.
Achariam que ele devia ter tido mais cuidado e inventado uma melhor
maneira de enfrentar os perigos do mundo.
Estou mesmo convencida de que
a dor tem
tido propaganda injusta. Talvez
devêssemos ter estátuas,
hinos e poemas exaltando a dor.
Qual a razão de eu assim pensar? Porque
se fizermos um exame realmente acurado, veremos a estrutura da dor por um prisma completamente diferente.
Impressionei-me grandemente com
a assombrosa eficácia
da dor.
Devemos ser agradecidos pela invenção da dor. Deus fez o
melhor. É maravilhoso!
Para muitos aspectos do
problema da dor,
o Cristianismo oferece respostas
que parecem incompletas.
Uma fé pessoal
pode, entretanto, tornar a
pessoa mais apta
a enfrentar o
medo, um dos fatores-chave na reação à dor.
Pela sua própria natureza, a
experiência de sobrepujar
o medo é individual, e, portanto, não é uniforme. Eu
poderia dizer:
— Expulse o medo pela confiança em Deus.
— Mas para que serviria isso? Como
se consegue fazer tal coisa?
A Bíblia é o guia do cristão. Creio que o esclarecimento que ela traz
sobre dor e sofrimento é o grande antídoto
para o medo das pessoas que sofrem.
Esse esclarecimento pode
dissolver o medo como a luz desmancha a escuridão.
Quando sofro dor, tento refletir sobre o bem que a dor pode produzir em
mim, conforme a promessa da Bíblia.
Em Romanos 5:1-5, Paulo
nos diz que
as tribulações produzem perseverança, experiência e
esperança; portanto, caráter e confiança ou intrepidez.
Eu me perguntaria:
— Como o sofrimento pode produzir tais qualidades?
Produz perseverança, ou constância, diminuindo o meu ímpeto,
forçando-me a voltar-me para Deus, Provando-me
que posso vencer a crise.
Isso fortalece o
caráter.
Continuo, ainda, a indagar como pode Deus estar envolvido no processo do sofrimento.
A certeza de que Deus pode usar o sofrimento para produzir estas
qualidades é confortante. Que o
sofrimento é temporário e
será um
dia recompensado.
o conhecimento deste fato pode também ser a chave para estabilizar a fé
sob provação.
A Bíblia está cheia de recursos
à disposição de
quem queira afugentar o medo e o desânimo. Ler as dificuldades de Jó,
fustigado pelo temor de que Deus não se importasse com ele, pode fazer com que o
meu medo seja
mais fácil de suportar. A história do amor e
da bondade de
Deus, que transparece em toda a
Bíblia, pode ser um bálsamo para as minhas dúvidas. E o conhecimento sobre a
oração a
um Deus amoroso pode repelir os esforços loucos de “aumentar a fé” na esperança de impressionar Deus.
A Bíblia mostra que não é desta maneira
que a oração funciona. Deus já está cheio de solicitude amorosa;
não precisamos impressioná-lo com exercícios espirituais.
O conhecimento da dor em si, das suas funções medicinais, também pode
ajudar-nos a ter
menos medo. Para
mim, pessoalmente, tornou-se muito mais fácil enfrentar uma dor, depois de compreender
a sua função, na visao de Deus.
O sofrimento amedronta
muito menos quando se entende o
seu papel e o seu valor.
A dor não é apenas um fenômeno físico. Atitudes de medo e desânimo afetam a intensidade da dor. Mas
temos os exemplos inspiradores
daqueles que demonstraram
ser o espírito humano capaz de superar as piores
circunstâncias. Como o homem é
tanto corpo quanto espírito, o
Cristianismo pode oferecer uma
verdadeira e benéfica esperança.
Jamais achei que o cristão estaria
livre de sofrimento, porque nosso
Senhor sofreu. E cheguei à
conclusão que ele sofreu,
não para livrar-nos
do sofrimento, mas
para ensinar-nos a suportar o sofrimento. Pois ele sabia que não há vida sem sofrimento.
Mas, na realidade, a dor e o
sofrimento são muito menos do que se pensa. Como imaginar a eternidade?
É tão mais extensa do que a nossa curta vida aqui na
terra que se torna difícil até mesmo visualizá-la.
Mas, será razoável julgar Deus
e o seu plano para
o universo pela pequenina amostra de tempo que passamos
aqui na terra?
Quem se queixaria
se Deus permitisse
uma hora de sofrimento numa vida inteira de
conforto? Por que,
então, nos queixamos de uma vida que
inclui sofrimento, quando aquela vida é apenas uma hora dentro
da eternidade?
Segundo o esquema cristão, este mundo e o tempo que aqui passamos não são tudo o que existe. A
terra é um campo experimental, um ponto na
eternidade, mas um ponto muito
importante, porque Jesus disse que o nosso
destino depende da nossa obediência aqui. Na próxima vez
que você quiser clamar contra
Deus em desespero angustiante, pondo toda a culpa nele por estar neste mundo miserável,
lembre-se de que foi apresentado menos de um milionésimo da evidência, e que é esse milionésimo que desfralda a bandeira da rebeldia.
Ironicamente, a morte,
a ocorrência que
mais causa sofrimento emocional,
é na realidade uma transferência, uma
época de grande alegria, pois só então nós nos apropriaremos da vitória de
Cristo. Descrevendo o resultado da própria morte, Jesus usou o símile de
uma mulher em dores de parto, sofrendo até o momento do
nascimento do seu filho quando, então,
tudo é substituído por
arrebatamento (João 16:2 1).
A nossa morte pode ser considerada um nascimento.
. Quando, depois da morte,
acordarmos naquele radiante mundo novo, nossas lágrimas e dores
serão apenas memória. Apesar de
sabermos que o novo mundo é muito melhor do que este aqui, não temos
condições de saber
exatamente como ele é. Os escritores da Bíblia contam-nos que, em vez
do silêncio de Deus, teremos a sua presença
e vê-lo-emos face a face. Receberemos,
então, uma pedra e sobre ela será
escrito um nome, que ninguém mais sabe. O
nosso nascimento será completo.
Seremos novas criaturas (Apocalipse
2:17).
Você pensa às vezes que Deus não ouve? Que seus gritos de dor desvanecem-se no nada? Deus não é
surdo. Ele está
tão mortificado pelo mundo quanto
você. O seu
único Filho morreu aqui.
Ele, porém, prometeu
pô-lo em ordem.
Nada desaparece simplesmente.
Esperemos pelo fim. Deixemos que a
sinfonia arranque as últimas notas discordantes de lamento
antes de
irromper a melodia. Como Paulo disse: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não são para comparar com a glória por vir a
ser revelada em
nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos
filhos de Deus” (Romanos 8:18,
19).
“Porque sabemos que toda a criação a um só tempo
geme e suporta angústias até
agora. E não somente ela, mas também nós
que temos as primícias do Espírito, igualmente
gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a
redenção do nosso corpo” (Romanos 8:22, 23).
Quando olhamos para trás, para a partícula da
eternidade que foi a história deste planeta, ficamos impressionados não
por sua importância, mas por sua insignificância. a terra é quase um palito de fósforo.
E nesse simples palito de fósforo, Deus sacrificou a si
próprio.
A dor pode ser considerada, no dizer de Berkouwer, o grande “ainda não”
da eternidade. Faz-nos lembrar do
lugar onde estamos, e desperta em nós a
sede do lugar
para aonde iremos um dia.
No auge do sofrimento, falou Jó:
Quem me dera fossem agora escritas as minhas palavras! Quem me dera que fossem gravadas em livro!
Que com pena de ferro, e com chumbo, para
sempre fossem esculpidas
na rocha!
Porque eu sei que o
meu redentor vive,
e por fim se
levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em
minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por
mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de
saudade me desfalece o coração
dentro em mim (Jó 19.23-27).
Eu creio que um dia, todas as contusões,toda a dor, todo o embaraço e
toda mágoa serão curados e todos os cruéis momentos de
esperar sem esperança serão
recompensados.
Pela fé, apóio-me
nessa grande esperança. Se eu não acreditasse verdadeiramente que Deus é um médico e não um sádico, e que
ele sente em si a
presença torturante dos nervos que não estão em harmonia com o organismo”,
abandonaria imediatamente todas as
tentativas de investigar os mistérios do sofrimento. A minha irritação contra a dor
dissipou-se principalmente por
uma razão: passei a
conhecer Deus. Ele
me deu alegria,
amor, felicidade e misericórdia. E no meio do meu
mundo confuso e iníquo, mas a sua
presença foi suficiente para convencer-me de que o meu Deus é digno de
confiança.
Conhecê-lo vale qualquer sofrimento.
Desde o começo ele esteve presente, planejando um sistema de dor que,
mesmo em um mundo decaído e rebelde, leva
a marca do seu gênio e equipa-nos
para a vida neste planeta.
Ele tem observado o reflexo de sua imagem em nós enquanto entalhamos
grandes obras de arte, empreendemos aventuras grandiosas,
sobrevivemos num misto de dor e prazer
quando ambos se entrelaçam tão intimamente
que se tornam quase indistinguíveis.
Ele tem usado a dor, até mesmo nas suas formas mais cruas, para
ensinar-nos, pedindo-nos que nos voltemos para ele. Ele tem-se humilhado a fim
de conquistar-nos. Ele tem observado
este planeta em que vivemos, permitindo
misericordiosamente que o empreendimento humano siga o seu próprio caminho.
Ele tem permitido que clamemos aos céus e imitemos
Jó com estridentes e ruidosos
acessos de raiva, culpando a Deus por um mundo que nós estragamos.
Ele tem-se unido ao pobre e ao
sofredor, estabelecendo um reino celestial que lhes é favorável,
do qual
os ricos e poderosos freqüentemente se esquivam.
Ele tem prometido força
sobrenatural para nutrir nosso espírito, ainda que o
nosso sofrimento físico
não seja aliviado.
Ele tem-se unido a nós. Tem sofrido,
sangrado e clamado conosco. Ele tem honrado
eternamente aqueles que
sofrem compartilhando da sua dor.
Ele está conosco agora,
ministrando-nos através do seu Espírito e por meio dos membros do seu
corpo, comissionados a auxiliar-nos e a
aliviar-nos os sofrimentos por amor
de Cristo, a cabeça.
Ele está esperando e reunindo os exércitos do bem. Um dia, ele desencadeá-los-á. O mundo verá
uma última explosão de dor antes da vitória final. E, então, ele criará para
nós um incrível mundo novo, e a dor não mais existirá.
Eis que vos digo um
mistério: Nem todos
dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados.
Porque é necessário
que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal
se revista da imortalidade.
E quando este
corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e
o que é mortal se revestir de imortalidade, então
se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a
morte pela vitória.
Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?
(1 Coríntios 15.-SI-55).
Rafaella Queiroz