Qual o problema de ser feliz por apenas alguns minutos diários? Não há
problema, mas incômodo. Para que nada de mal aconteça, tudo tem que
estar sempre mal. Péssimo. Aí não há perigo de haver péssimas notícias.
Ou pelo menos, se não houver felicidade, não há o que estrague a
felicidade. Nem por alguns minutos. A insistência em não realizar o que
está só esperando ser realizado é para não correr o risco de estragar
tudo. Só falta colocar em ordem, como já foi dito. O pensamento está
aqui, mas não tem ordem ainda. Ou não tem coragem de aparecer. Ou
aparece nos piores momentos.
A luz laranja que sai dos olhos mais bonitos do mundo, que olha as
coisas como se elas fossem lindas, podiam ser meus. E não são. Nem meus
nem de ninguém. E se eu pedir para aumentar o volume da voz, tenho
certeza que serei compreendida, atendida rapidamente. O melhor é não
precisar de explicações. De não ter que detalhar um pedido qualquer,
por mais complexo.
Um brinquedo pode ser capaz de ler a minha mente, mas não a sua.
Pura falta de tempo de não ficar sozinha. É uma coisa de só eu mesma me
suportar, agüentar firme a melancolia que não se define perante o
fingimento puro e o conforto. Conversas sem fim me assombram. Gosto
mais é de falar em silêncio.
O que eu queria dizer simplesmente não saiu da minha boca.
Uma morta. Uma morta e feia. A morta é feia.
Como os medíocres não têm o que dizer.
Uma sala escura e trancada, não há quem faria isso comigo.
Eu já disse o que sei, só falta colocar ordem.
Mas vamos ver como vai ficar agora que eu descobri que as coisas funcionam assim.
Mas eu fui embora porque quis. Não foi?
São essas as pessoas que têm vida.
Eu sou assim. Uma chata ideal.
Foguetes e cometas que ainda não atingiram as idéias certas.
Não seria demais o que eu queria. Se não, chorar. E muito.
Seu dia começa e sua cabeça já dói. Ela precisa mais de você.
Muito tempo, muito tarde. Cozinha, copo, água, remédio, mil goles.
A mentira supera a verdade em muitos quesitos. Mas não deixa de ser a
mais pura mentira. Tenho um ódio verdadeiro crescendo e uma miséria
inteira dentro de mim. Uma miséria solitária que vem suspirando cada
vez mais satisfeita por pertencer a mim. Não importa o que digam (as
pessoas sempre têm algo reconfortante para dizer quando eu menos
preciso) nada vai mudar a minha qualidade de pessoa mais mentirosa que
já existiu. Não há abraço ou aperto de mão, não há contrato assinado
nem olhar profundo que me faça melhorar. Estar convencido de que se é
insignificante é sinal de lucidez. A mais pura e mentirosa (não vai
deixar de ser) lucidez.
E se agora eu não consigo e nem quero encarar ninguém a culpa é
exclusivamente minha. A minha lucidez e arrogância. A vontade de ser ou
parecer perfeita. Não há manual para isso. São anos e anos de
experiência mórbida de autoconhecimento. Não há droga que cure, não há
comédia que melhore, não há palavra cruzada. Não há ópio suficiente no
mundo. Não há plástica de nariz ou obturação.
E que espanto é esse? A vida é assim.
Não vou mais incomodar ninguém com excessos de raciocínio. E não vai
mais precisar vir até aqui dizer que tudo está bem, que o pior já
passou ou então que muito mais dificuldade virá. Envergonha-me fazer
com que todos saibam, mas as palavras de conforto ensaiadas e
melhoradas não mais fazem efeito. Pelo contrário, causam alergia e
irritação. São mortais.
Porque isso tudo de amor é sobre mim, só eu. Eu quero ganhar alguma
coisa nessa vida. Sou eu e mais ninguém. Não tem isso de você
e outras pessoas. Sou eu tentando ganhar o meu.
Não sei mesmo dizer se ouvi ou não o despertador tocar. Sei é que torci
de verdade para não acordar hoje e não ver tudo dando errado de novo, e
de novo. Não que dê errado mesmo, é só que nada acontece de verdade.
Mais irritante ainda é essa chuva de três dias. E tem também aquilo de
não se livrar das coisas da cabeça, isso que não passa. Pior ainda é
pensar em arrumar a cama quando na verdade os músculos já se mexeram
pra isso ontem, semana passada. E é isso todo dia, arrumar a cama,
esticar o lençol para dez minutos depois deitar sem poder fazer um só
movimento, uma vontade louca de deitar e fechar os olhos. Daí fechar os
olhos e ver que não tem sonho, que não tem sono, que não tem pensamento
bom. É só vontade de fazer alguma coisa bem ridícula ou errada, alguma
coisa que mude o estado de pré-coma.
A música é incrivelmente brega, mas não tem problema. Quem inventou as
calças de seda para pijama? Japoneses, orientais. Dizem que o bicho da
seda é tão ou mais importante, em termos de invenção, quanto os maiores
cientistas. O vizinho é brega, mas faz companhia. Quem se importa se os
pijamas de seda estão aí?
E não dá para não pensar se a cabeça fica latejando para sempre e a
consciência dizendo que está tudo uma grande merda. Ficar estátua não é
uma boa idéia, mas pelos menos não desarruma a cama, que foi toda
pensada por alguém que tinha muito o que fazer e não via a inutilidade
na arrumação diária. Garganta estourada e o pescoço que não se sustenta
por muito tempo.
A dor de cabeça quando começa a amanhecer. E a música brega. Caso o
telefone tocasse poderia até rir das repetições do andar de cima. Ou da
frase sobre bichos de seda. Mas nada vai acontecer enquanto as melhores
e mais impensadas atitudes não forem tomadas. Lição número um ou apenas
uma idéia idiota? Perguntas sem respostas como aquela sobre o bicho de
seda.
A garganta estourando e ainda assim eu grito. É verdade que eu não falo baixo quando sei que estou certa.
É engraçado mas agora mesmo estou certa de que alguma atitude perdida
devia ter sido tomada. Sou feliz demais para dizer que poderia me
matar, mas se pelo menos eu morresse sem querer, já teria a ver com o
alívio.
A luz do abajur é rosada e os corações da calça do pijama também.
Queria ter feito mais por mim mesma durante os anos em que podia. Mas
agora é coisa de ser tarde. É coisa de ser enjoada, de ser atrasada, de
ser retrógrado demais. De ser inútil, de ter chegado na hora errada ou
ter um bode na sala. O mesmo tipo de música deprimente cantada em
inglês e francês. Uma coletânea de novela. Greatest hits. Novelas. Love
songs. Uma coisa feia e grande.
Respirar sem pensar. Se pensar, é sufocar. Estar errado é profundamente
irritante para qualquer um. Queria acreditar que aquilo tudo era mesmo
sem sentido, que era inútil, a coisa mais inútil do mundo. Queria mesmo
recuperar a lucidez e parar de pensar que perdi a chance da vida de ter
chegado até o fim em alguma coisa, mesmo que fosse aquilo. E era muito
fácil tomar uma atitude de vez, estava tudo nas mãos quando tomei a
decisão, novamente, de esperar pelos outros. Repetição, assunto
recorrente, mas quem se importa? Se for assim o jeito que a pessoa
encontra de ter forças para tomar o próximo copo d’água no dia, não há
problema. Dizem que o ideal diário é 8 litros. Bem mais da metade
disso, dependendo do grau da concentração de tentar viver sendo triste.
De segurar a alegria para momentos banais, desperdiçar propositalmente.
Por mais que digam tudo a respeito do meu sorriso, não me lembro de
sorrir muito. Não sinto ter sorrido esse tanto.
Às três da manhã começei a prestar atenção no teto.Chorei soluços. Sem lágrimas mesmo. Sem
sentido. Contorcendo-me na cama até pegar no sono pesado.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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