Com estas
palavras — “Para que possa conhecê-lo” — o Apóstolo Paulo respondeu aos
queixosos reclamos da carne e correu em busca da perfeição. Todo lucro contou
como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, o Senhor; e, se o
conhecê-lo melhor lhe significava sofrimento, e mesmo a morte, isto não impedia
o Apóstolo de marchar para a frente. Para ele o ser semelhante a Cristo era
algo sem preço. Suspirava por Deus como o cervo suspira pelos mananciais de
águas, e para ele o mero raciocínio tinha pouco que ver, comparado à vida que
sentia.
Na verdade,
boa série de conselhos e de ignóbeis escusas poderia ser apresentada para
afrouxar-lhe o passo, disso temos ouvido bastante. “Poupe sua saúde” — um amigo
prudente lhe teria dito. E outro: “Você corre o perigo de ficar maluco, ou
sofrendo dos nervos". E um terceiro diria: "Você muito logo será
apontado como extremista"; e um pacato professor de Bíblia, com mais
teologia do que sede espiritual, apressa-se em dizer-lhe não há mais nada a
ser pesquisado, ou buscado. E diz: "Você já foi aceito no amado, e
abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.
Que mais quer você? Tudo que você tem a fazer é crer, e esperar o dia final da
vitória dEle".
Então, o
Apóstolo Paulo precisaria ser exortado, se vivesse conosco em nossos dias, pois
assim substancialmente, tenho visto se amortecerem e se atenuarem as
aspirações dos santos, quando eles se movimentam, para viver com Deus num
crescente grau de intimidade. Mas, conhecendo a Paulo como o encontramos nas
páginas do Novo Testamento, é seguro presumir que ele repudiaria tão baixo
conselho de conveniência ou utilitarismo, e avançaria para o alvo — o prêmio da
suprema vocação de Deus em Cristo Jesus. E bem faremos em segui-lo.
Quando o
Apóstolo exclama: "Para que possa conhecê-lo", emprega o verbo conhecer
não no sentido de intelecto e sim no seu sentido de experiência. Precisamos
compreender bem que ele quis referir-se não à mente e sim ao coração. O
conhecimento teológico é conhecimento acerca de Deus. Conquanto indispensável,
não é suficiente.
Tem ele para
com a necessidade espiritual do homem a mesma relação que um poço tem para com
a necessidade material do seu físico. Não é propriamente por aquele poço
cavado na rocha que suspira o viajor suarento e coberto de pó, e sim pela água
límpida e fresca que dele jorra. Assim, o que sacia a antiga sede do coração
do homem não é o conhecimento intelectual de Deus, e sim a Pessoa e a Presença
real do próprio Deus. E isso nos vem a nós pela doutrina cristã, mas é muito
mais que mera doutrina. O objetivo da verdade cristã é levar-nos a Deus e
nunca substituir a Deus.