sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
A minha vontade oscila entre o que eu quero e ainda posso ter e aquilo que eu quero mais e nunca vou alcançar.
Dizer a verdade é privilégio de quem nunca precisou mentir.
Você repete uma frase. Repete uma palavra. Quinze vezes, vinte, cinqüenta. No fim, ela não vai mais significar nada. O tempo, a repetição do tempo. Vou esperar pela repetição de um dicionário completo de termos que quero esquecer. Quero rir de tudo aquilo que perder o sentido. Colecionar. De um conjunto de idéias e sensações esdrúxulas e incômodas. Tenho que aprender a me distrair.Quando o dia acabar e não sobrar mais paisagens, pessoas e morbidez, a vida vai ser melhor. Com as pessoas, quase não se pensa. É só falar, olhar e sorrir. Reagir. Fazer cara de nada e não ser incomodado.
Mas aí fica faltando alguém para se falar o que de melhor se pensa e para sorrir o melhor sorriso. Não é possível ser brilhante todo o tempo, apesar de necessário. Não é a paisagem, não são os prédios e nem as crianças gritando. É o que dá para pensar quando se finge a solidão. Depois de várias placas verdes, descobriu o que não queria ser.
E o que queria ser demais. Ainda vou ser isso e ser aquilo. ainda vou ter um filho. Ainda serei míope. Ainda serei linda, ainda serei boba, feia e chata. Ainda vou me afogar. Ainda vou pular, andar até cair, bater o carro. Ainda vou ficar doente em uma cama de hospital. Ainda vou ser milionária e perder tudo. Ainda vou passar um dia todo na piscina. Vou aprender a pular de ponta e a falar francês. Ainda vou perder um filho. Ainda vou sustentar um sorriso por meia-hora. Vou ter o carro roubado e recuperado pela polícia no fim do dia. Ainda vou desmaiar e ter todo o tempo do mundo.
Ainda vou ter tudo e mesmo assim chorar. Ainda vou assistir a um velório. Ainda vou ajudar alguém que realmente precise. Vou acertar achando que errei.
Ainda vou dormir e sonhar que morri. Ainda vou parar com isso e aquilo.
Ainda vou parar já que o mundo inteiro é muito brega.
Eu descobri a fórmula de escolher a melhor forma de fazer algo. Fazer sempre da pior maneira possível.
Quero me mudar de casa, de cidade. Tudo para esquecer, tudo pra chorar só mais uma vez e pronto. E depois parar com isso, que já cansou.
Vamos ser sutis enquanto nossa educação e anatomia permitem. Tratemo-nos como idiotas que somos, sem, é claro, ferir o sentimento de ninguém. O sentimento de pertencer e de ser objeto de análise, admiração, respeito. Nada disso. Somos objetos normais. Conversamos sem nunca alcançar qualquer entendimento que valha a pena.
É reconfortante que tenhamos palavras e letrinhas.
Escovar os dentes antes ou depois de trocar de roupa. A segunda opção para hoje. A rotina ficaria mais divertida se eu pudesse ficar em casa e não provar que eu ou quem quer que seja exista. Exista para minha cabeça.
Quando estou morrendo de sono não consigo ficar feliz e articular palavras ou pensar no sentido da existência humana.
Não estamos falando no porquê de as coisas existirem, mas o que elas fazem aqui comigo. Estar com sono de verdade, desde que se nasce é ver a vida passar sem se intrometer muito. Deixar o acaso. A vida não é, a vida fica.
Meu nível de incômodo com as coisas é o mais baixo possível e isso acaba preocupando os outros. Nada vai devolver a inquietação. Parece.
E nada vai mudar fora de mim. E tudo que eu faço não é bom, exceto quando está fora de mim.
Alteração de humor imediata por causa de luzes que ferem os olhos e o resto do corpo. Submissão, rejeição, a subalterna. Eu nem me lembro bem o que eu tanto queria te falar, quando disse que você devia morrer. E ainda leio muito em casa, na busca incessante por uma anestesia qualquer.
Doeu muito, mas não arrancou pedaço. Prometo não sentir mais nada nos próximos dez anos. Melhor, eu juro. Tudo isso, na verdade, é um grande jogo de concentração, misturado com uma enorme dose de condicionamento. As pessoas se acostumam a reagir de determinada forma e simplesmente fazem de tudo para se sentirem correspondidas em cada merda de movimento condicionado. Cansei desse treinamento idiota.
E eu preciso dizer que todas as pessoas do mundo podem abusar umas das outras, inclusive eu. Sou capaz também. Ruim.
A racionalização sempre salva nas piores oportunidades. Não há mais chance de ser ridículo depois de se pensar melhor. Antes de tomar qualquer atitude drástica, antes de cair no absurdo de se tornar um palhaço. Nem ridículo nem feliz.
Oferecer gim não vai melhorar em nada as besteiras que já foram feitas. As besteiras esquecidas e as eternas. E coloca logo um sapato que isso de andar descalço é muito perigoso. Tudo bem se os meus olhos brilham. Tudo bem se desde sempre você achou isso bonito, tudo bem se parece que estou sempre a ponto de chorar. Tá bom que dá para sentir o meu perfume de longe e que parece mesmo que não é perfume, que é meu mesmo. Que é bom. Não importa mais, esquece isso que eu já esqueci.
Você flutua pensando que o mundo é só seu, que o olhar dos outros é seu, que a esperança de beleza no mundo todo é sua. E isso cai de uma vez e você sente os seus pés no chão quando para e pensa de novo. Uma vez mais para descobrir que o egocentrismo tem limite, mesmo para você, que não merece.
É universal. A quantidade de coisas dando imediatamente errado é sempre maior do que as coisas que dão certo no que chamam de longo prazo. Aí a cadeira fica mais dura, o trânsito mais cheio, a gola da camisa mais apertada e o trabalho mais chato. Tudo se torna infinitamente menos interessante, mais cinza do que branco, mais rosa que vermelho.
Existem dois tipos de pessoas. As que juram que a vida é bonita e os que já sentiram pelo menos uma vez o pé no chão. Se a coluna doeu, se o ódio regular aumentou, pronto.
E as situações absurdas são apaixonantes justamente por não se encaixarem nos dois casos. Por não fazerem sentir nem uma coisa nem outra. A autoconsciência explícita em todos os momentos incomoda demais. Quando não podemos definir o que se é, nas mais deliciosas situações absurdas, a vida é cem vezes mais interessante. Me conta uma história e me faz dormir? Qualquer coisa. Pode mentir. É só até eu pegar no sono. E apaga a luz.
Produzir os seus gestos e tentar entender os desejos de forma artificial. As mais diferentes idéias que se tem de si e do resto da humanidade dependem apenas da vontade de esconder o seu próprio estado de existência. O pensamento deve ser produto contínuo de sua própria existência. O modo como se produz a própria vida é o que cada um é de verdade. Não saber de tudo é reconfortante então.
Você quer que eu seja o tipo de mulher que quase não existe por aí. Não acha que está exigindo demais? E para quê? Para te satisfazer? Aí está uma novidade. Jamais serei como as mulheres de seus filmes preferidos. Simplesmente porque não quero.
Hoje eu queria saber menos do que eu sei. Queria ter ouvido menos do que ouvi, ter visto menos do que eu já vi. Ser mais distraída. Uma mania de querer entrar em detalhes desnecessários. Queria ter batido menos a cabeça por esses dias.
onversado menos, saído menos de casa. Não tem nada melhor do que a rotina pesando nos ombros, do que o silêncio velado, lindo. A passividade é toda minha, disponha. E é boa mesmo. Uma conquista que já não está mais aqui. Queria sentir menos que você chegou a escutar tudo o que eu disse. O que eu tinha para dizer, sem negar as minhas percepções, por favor. Por mais absurdas que fossem as distorções. É impossível me sentir melhor, sentindo tantas coisas. É por isso que eu queria muito saber menos do que eu sei. E se eu arrumar essa bagunça, é bem capaz que volte a ouvir sua respiração na minha perna, de dormir. Eu quero mais é que o silêncio volte. Podemos ficar sentados, vendo filmes de terror à noite, como antes. E você volta a ter paciência. E eu volto a não precisar dos outros, a odiar todas as pessoas que eu não conheço. E você volta a rir disso.
Eu prefiro a minha vida ruim, os meus livros ruins e a minha cama velha do que tudo o que tem de mais original, divertido e sexy. A minha vida comum, os meus não-amigos-de-sempre, aquela coisa da qual todo mundo foge. Prefiro a minha casa, o meu cachorro que eu ainda não vi hoje, meus papéis velhos, os bilhetes de cinema, a cola antiga, os sapatos velhos.
Não quero ser a mais legal, a única e original, a que tem o rosto mais bonito.
Eu não quero ter bons pensamentos e ver a lua sorrindo pra mim. Gramas verdinhas, pássaros cantando, o maldito pôr-do-sol. Não quero o perfume.
Eu quero todo dia o meu cobertor, minhas músicas ruins e a vista do parque sujo. Gosto da minha vida de tédios.
Não tem essa de passar o dia descrevendo a mente humana, as cores bonitas e a textura correta. Eu gosto da lâmpada de mercúrio no poste, a cidade vazia e o clima frio e seco. Eu não quero aprender a acertar, não quero latim, não quero russo. E eu juro que não quero ser eficiente. Eu só quero pensar.
Não dá mais para ficar sendo assim. Simplesmente não dá. Uma coisa é nascer pensando que pode ficar parada, indo sempre devagar e acompanhar o resto dos imbecis. Outra bem diferente é ser freada cada vez que ri mais alto.
Ou: uma coisa é respirar baixo, e outra bem diferente é ficar o tempo todo com o nariz tapado, fingindo de morta, a cara azul.
Melhor: uma coisa é pensar que faz uma coisa útil e outra bem diferente é fazer tudo escondido para ninguém ver o erro.
Não sei. Um de cada vez então. Você quem sabe. De que adianta ficar aqui pensando um monte se não é nada, se qualquer novela resolve. Ponto.
Do jeito educado então: É melhor não falar nada quando não há o que dizer.
Eu queria poder ouvir as vozes da televisão e as músicas no rádio ao mesmo tempo. Quem sabe se colocar os óculos de novo. Não pode, não pode, não é normal. Sonhar que mergulha em uma piscina imunda, isso sim não é normal. Deve ser motivo de preocupação, um sinal de qualquer coisa ou excesso de angústia estéril. Agora que tenho tudo o que quero, prefiro quando não tinha nada, ou qualquer coisa do tipo. Mas pode ser também a tal da umidade relativa do ar. Vontade de ver o mar, necessidade de tomar banho. Mas o melhor detalhe é que não havia nojo algum, só não entrei na água escura porque estava com frio.
O telefone tocou uma vez, uma única vez, sem registrar o número que chamava. O que a solidão não faz, eu crio. O que a falta não faz, é só comer bastante. E quem quer saber o que eu sonhei? E quem vai ter paciência de ir até o final com essa obsessão por sonhos ruins. A fotografia pelo menos é boa. Desta vez era granulado, azul turquesa, arredondado. Uma lente especial para cenas de verão. Pessoas gordas sorrindo. Deixar quieto ou o quê? E se for um novo vício?
Eu quero ter alguns novos gostos e alguém pode achar isso mega ultra brega. Eu nasci assim e que se dane. Dentes brancos, tudo bem. Apenas quando soa bem para os teus pavilhões auditivos. Isso não é justo. O atirador vesgo pinta o alvo depois que atira, nas marcações que sobraram na parede. Eu sou assim, oras. Quero ver quem não é. Eu odeio chá, por exemplo.
Fazer terapia e parar de sentir dores inexistentes. Tentar fazer as conexões causais aceitáveis. Não mais ligar todos os fatos que me cercam como um ratinho de laboratório ensinado a base de choque. Ainda tenho um espaço por aqui, certo? Vou continuar até que acabe. O suficiente para mais meia hora. Simplesmente adoro a chuva artificial dos filmes mais mal feitos. Com vento e luzes de postes acesas. Isso deve ser no mínimo imbecilidade. Mas é assim que as coisas são: imbecis. Todas as coisas do mundo são imbecis. Inclusive esconder as verdades aqui comigo. Por que perder tempo quando se pode resumir e morrer?
As paredes vão ficar cada vez mais amarelas. Então é melhor pintar creme, e não gelo. O ato de resumir. Ouvir uma bela música e lembrar de ter saudade, e sentir falta do que não se tem em dobro, daquilo que não se tem por inteiro. Até hoje, até agora, desde sempre.
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