O Senhor
me disse que desejava que eu fosse uma louca, de um tipo jamais visto
antes". Uma suave revolução acontecerá pela
humilde organização dos cristãos loucos que estão dispostos a subverter a ordem
estabelecida ao reorganizar sua vida em torno da mente de Cristo. Sua questão é
a transparência por meio da veracidade, e seu estilo de vida será moldado pelo
evangelho de Jesus Cristo.
Se "a verdade consiste em
que a mente dê às coisas a importância que elas têm na realidade", nas
palavras de Jean Danielou, então o desejo de segurança, prazer e poder
será avaliado de forma realista como sendo palha, e o domínio de Jesus Cristo pragmaticamente afirmado como a ordem da verdadeira realidade.
Os loucos por Cristo são
violentos, como o evangelho ordena que sejam (Mt 11:12), mas a violência se
aplica a eles próprios (Gl 5:24). Sua bondade é o belo fruto da reverência a
Deus, da compaixão pelo mundo e do respeito a si mesmos. Suas prioridades são
pessoais, determinadas não pela religião popular do momento, por políticas de
poder ou pela cultura do consumo, mas pelo Sermão do Monte e pelo mistério.
Para o louco, Jesus Cristo não
é um sábio ou um admirável reformador: é o segundo Adão, autor de uma nova
criação. "Estou fazendo novas todas as coisas!" (Ap 21:5). Jesus
redirecionou a realidade e deu-lhe uma orientação revolucionária. Jesus não arrumou o mundo. Ele
o levou a uma freada barulhenta. O que ele refez a
partir dos materiais humanos da velha ordem não foram pessoas mais agradáveis,
com moralidades melhores, mas coisas novas (2Co 5:17).
As
categorias de tais revolucionários transcendem todas as distinções classistas.
Homem versus mulher, clérigo versus leigo, progressista versus conservador,
carismático versus tradicional, moderno versus pós-moderno — todos estão dissolvidos no amor unificador do Espírito (Gl 3:28). As únicas exigências para ser
membro é a consciência empírica de Jesus como Senhor redentor e de Deus como
Aba, a rendição incondicional ao domínio do Espírito Santo e o comprometimento
constante com a missão de construir o novo céu e a nova terra.
O
sentido de missão entre os loucos causará destruição na vizinhança. Medos serão
despertados e rumores circularão de que tais pessoas estão ficando
"estranhas". Os amigos os aconselharão a se restabelecer e a fazer
algo construtivo com suas vidas (como procurar segurança, prazer ou poder). Os
vizinhos cochicharão que são fanáticos religiosos. Os familiares darão
demonstrações ostensivas de suas realizações duvidosas. Estratagemas serão
planejados para levá-los a ver e sentir como são de fato: loucos. Catherine de
Hueck Doherty diz: "É como se o mundo precisasse de loucos — loucos por Cristo! Loucos pelo amor de Deus! Pois são tais
loucos que mudam a face da terra".
Conforme
seria de esperar (Jo 15:18), esses loucos serão ofendidos. O cristianismo hoje é
basicamente inofensivo, um tipo de religião que jamais transformará coisa
alguma. Jesus Cristo, o mestre revolucionário, transgrediu a ordem religiosa e
política da Palestina. Os cristãos também são compelidos a transgredir e, se
não o fizerem, isso é mau sinal: não estarão sendo revolucionários de fato.
Talvez a motivação da
revolução ou sua inspiração orientadora possa ser mais bem descrita por um
sonho que tive durante uma noite.
Em meu sonho, vejo um homem
andando no corredor da morte e uma mulher sendo preparada para receber a
injeção letal num presídio. Vejo os fornos de Auschwitz e Dachau e caminhões
carregados de corpos de judeus mortos circulando na noite. Vejo Hiroshima e 95 mil corpos queimados, carbonizados,
irreconhecíveis, espalhados por ruas e ladeiras. Vejo o corpo amarrotado de
John F. Kennedy tombado na morte. Vejo a princesa Daiana depositada num
caixão fechado na catedral de Londres.
Agora vejo fileiras de cruzes
fora do muro da antiga cidade de Jerusalém com centenas de corpos pregados a
elas: ladrões, rebeldes, assassinos. Em uma colina, vejo mais três cruzes com
os corpos de outros três homens mortos, e todos parecem ser o mesmo indivíduo;
entretanto, o homem do meio parece ter sido atacado e brutalizado um pouco mais
do que os outros.
Em seguida, passados dois
dias, encontro-me na praça de uma grande cidade. Um grupo de homens correm ao
redor como se estivessem loucos. Estão dizendo a coisa mais absurda: a crucificação do homem do meio, nas três cruzes, não fora apenas
outra execução política. Estão dizendo que é o evento mais importante na
história do mundo. Estão dizendo que o homem agora é o centro da fé e o objeto
de adoração de homens de todas as idades e em todo o tempo por vir. Estão fora
de si de tanta alegria.
Fico desnorteada. A proclamação alucinada não tem nenhum precedente em meu estudo das
religiões mundiais. Não se ajusta a nenhuma das minhas categorias teológicas.
Nos termos da minha compreensão religiosa, é um escândalo, uma afronta. Além do
mais, esses homens parecem um pouco fantasmagóricos, e alguém está dizendo que a mulher em sua
companhia fora uma prostituta. De qualquer maneira, o homem estava morto. Eu o
vira, e ele estava tão morto quanto Kennedy deitado no caixão.
Mas,
só para ter certeza, volto à colina. Enquanto estou ali, olhando para o que era
agora uma cruz vazia, um homem surge na linha do horizonte. De algum lugar, um
poderoso coro está cantando: "Rei dos reis e Senhor dos senhores".
Dou
uma olhada. Já não estou só. Até onde a vista alcança, a paisagem e pontilhada
por pessoas. Todas estão cantando "Rei dos reis e Senhor dos
senhores". O homem se dirige a passos largos para o centro. Ele está
banhado de luz. Como se duas cortinas fossem levantadas, os céus se abrem e
estão repletos dos seres mais belos que eu já vira.
O
homem para e levanta a mão. A terra fica em silêncio. Olho para o ele. Sua face
é incandescente como o brilho do sol ao amanhecer, seus olhos fulguram como
estrelas vésper. "A paz esteja com você", ele diz. Suas palavras são
mais uma ordem do que uma saudação. O universo se aprofunda numa ainda maior
quietude.
"Venha
a mim", ele diz, "quando chamá-la por seu nome. Sim, eu sei seu nome.
Eu a conheci acordada e dormindo. Antes que uma palavra estivesse na ponta de
sua língua, eu sabia todas elas. Examinei cada movimento seu. Estou
familiarizado com todos os seus passos. Mais do que um pastor conhece suas
ovelhas, eu a conheço pelo nome. Venha a mim".
Tem
início uma lista de chamada. Vejo Bob Dylan e Bono. Francisco de Assis aparece,
seguido por Martinho Lutero. Vejo Howard Hughes e Dorothy Day, Adolph Hitler e
Mohandas Gandhi, Nelson Rockefeller e Charles de Foucauld. Os seguintes são
Agostinho e Ray Charles, o profeta Amós e Hugh Hefher, Jeremias e David
Letterman, Maria e José, Paris Hilton e Brad Pitt, Pedro, Tiago e João. Kim
Jong-Il e George W. Bush. Há ainda meu irmão, meu vizinho. Eles vêm sem parar. Todas as pessoas formosas, famosas e poderosas e os
bilhões de anônimos, não famosos, nem celebridades.
Ouço chamar meu nome: "Rafaella". Quando dou um passo à frente, o homem olha para mim e,
em seguida, através de mim. Ele olha através de todo o meu blefe e minha
retórica, olha através de minhas atividades e falta do que fazer, para além de toda a minha
racionalização, minimização
e justificação. Pela primeira vez, sou
vista e conhecida como realmente sou. Tremendo, pergunto:
Qual é a minha sentença,
Senhor? Ele responde firme, mas suavemente:
Não sou seu juiz — e me
entrega o Livro. — A palavra que proferi já julgou você.
Uma longa pausa. Então ele
sorri. Caminho até ele e lhe toco a face. Ele toma minha mão e vamos para casa.
O conteúdo desse sonho é mais
real do que esse blog. Num dia e hora exatos, conhecidos
somente pelo Pai (Mt 24:36), Jesus Cristo, o Rei da glória, ofuscará o brilho
de todas as pessoas formosas, famosas e poderosas que já viveram. Cada homem,
cada mulher que alguma vez respirou será avaliado e medido somente em termos de
sua relação com o carpinteiro de Nazaré. Esse é o reino da verdadeira
realidade. O domínio de Jesus Cristo e sua primazia na ordem criada (Ef 1:10)
estão no centro da proclamação do evangelho. Essa é a
realidade.
Quando os loucos que buscam
viver com a mente de Cristo perguntam a si mesmos "Por que existo?",
eles respondem: "Por causa de Jesus Cristo". Se os anjos se
perguntarem, a resposta será a mesma: "Por causa de Jesus Cristo". Se
o universo inteiro de repente pudesse falar, de norte a sul e de leste a oeste,
ele clamaria em coro: "Nós existimos por causa de Cristo".
O nome de Jesus ecoaria nos
mares, nas montanhas e nos vales. Seria audível no tamborilar da chuva. Seria escrito no céu com raios. As
tempestades rugiriam
o nome "Senhor Jesus Cristo
Deus-Herói", e as montanhas o ecoariam de volta. O sol, em sua marcha
pelos céus rumo ao oeste, cantaria um hino ensurdecedor: "Todo o universo
está repleto de Cristo".
Se houver qualquer prioridade
em nossa vida pessoal ou profissional mais importante do que o domínio de Jesus
Cristo, desqualificamos a nós mesmos como testemunhas do evangelho e como
membros da suave revolução. Desde o dia em que Jesus rompeu os laços da morte e
a era messiânica irrompeu na história, há uma nova agenda, um conjunto sem
igual de prioridades e uma hierarquia revolucionária de valores para o crente.
O carpinteiro não somente
refinou as éticas platônicas ou aristotélicas, reordenou a espiritualidade do Antigo Testamento ou renovou a velha criação. Ele
trouxe uma revolução. Precisamos renunciar a tudo o que possuímos, não apenas a
maior parte. Precisamos abandonar nosso velho modo de vida, e não corrigir
apenas algumas de suas poucas aberrações. Devemos ser uma criação completamente
nova, não simplesmente uma versão renovada. Seremos transformados de uma glória
a outra, até mesmo na própria imagem do Senhor — transparente. A mente será
renovada por uma revolução espiritual.
O pecado,
naturalmente, é continuar a agir como se nunca houvesse acontecido. Quando
temos fome de Deus, nos movemos e agimos, ficamos alertas e reativos. Quando
não a temos, somos diletantes jogando jogos espirituais. "Deus não tem
importância nenhuma, a não ser que ele tenha absoluta importância", disse Abraham Heschel.
O
intenso desejo de aprender a pensar como Jesus já é um sinal da presença de
Deus. O resto é operação e atividade do Espírito Santo. Suponho que a maioria
de nós esteja na mesma posição dos gregos que se aproximaram de Filipe e
disseram: "Queremos ver Jesus" (Jo 12:21). A única questão é:
"Com que intensidade?".
Texto massa.
ResponderExcluirLindo, muito lindo mesmo esse texto, eu quero esta no meio desses loucos =D
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